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- Celebrado em 30 de agosto, Dia Nacional de Conscientização sobre a doença tem o objetivo de informar a respeito de diagnóstico e tratamento
- Retenção urinária provocada pela doença pode ser tratada com o uso de cateterismo intermitente limpo
Catalão, agosto de 2024 – Acometendo aproximadamente 2,8 milhões de pessoas em todo mundo, a esclerose múltipla é uma doença autoimune que afeta o sistema nervoso central [i]. Sua causa não é conhecida, mas a principal hipótese é que os indivíduos que desenvolvem o quadro tenham sido expostos a algum vírus (possivelmente um herpesvírus ou retrovírus) ou a alguma substância ainda não desvendada que aciona o sistema imunológico para atacar os tecidos do próprio corpo.1 Como é uma doença que pode deixar sequelas importantes para a vida do paciente, o dia 30 de Agosto foi instituído pela Lei nº 11.303/2.006 como o Dia Nacional de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla, com o objetivo de ampliar o conhecimento da população e alertar para a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado.
“As consequências da esclerose múltipla dependem da região afetada pela lesão e da sua extensão. Seu avanço pode levar à mobilidade reduzida quando a medula é atingida, tornando o paciente dependente de cadeira de rodas. Além disso, pode causar dores crônicas, problemas cognitivos e de memória”,
explica Rogerio de Fraga, médico urologista. Segundo o especialista, apesar de a doença alterar muito a percepção e a qualidade de vida, podendo causar, inclusive, depressão e ansiedade, o diagnóstico não deve ser recebido com medo pelos pacientes.
"Atualmente temos muitos tratamentos disponíveis que ajudam a controlar bem os sintomas”,
afirma.
Os principais sinais podem variar muito. Os mais frequentes, dependendo do local da lesão, incluem fadiga intensa, dificuldades motoras, fraqueza muscular, falta de coordenação e de equilíbrio, formigamento nos membros, problemas de memória e concentração e espasmos musculares. A visão pode se tornar turva ou pouco clara e, principalmente, as pessoas perdem a habilidade de enxergar quando olham para frente (visão central).1
“Qualquer um desses sintomas que tenha um início súbito precisa ser investigado pelo neurologista, que é o profissional mais habilitado para tratar a esclerose múltipla”,
ressalta Dr. Rogerio de Fraga.
“Normalmente o médico vai combinar vários métodos para identificar a doença. Deve avaliar os sintomas clínicos e os achados neurológicos de cada paciente”,
esclarece. Para fechar o diagnóstico, é solicitada a ressonância magnética, que é o melhor exame de imagem para detectar a esclerose múltipla.
“Por meio da ressonância magnética é possível avaliar se é uma lesão aguda e já iniciar o planejamento do tratamento”,
assegura. Muitas pessoas desconhecem, mas uma das consequências importantes da doença é a retenção urinária.
Esclerose múltipla e retenção urinária
Controlada pelo sistema nervoso, a bexiga, que armazena e elimina a urina, pode ser afetada pela esclerose múltipla. Algumas pessoas podem urinar com mais frequência enquanto outras têm dificuldade no esvaziamento. Quando o esvaziamento não é realizado regularmente podem surgir infecções, mesmo quando a quantidade de urina residual na bexiga é pequena. Outro problema pode ser a falta de controle na urgência em urinar, deixando a urina vazar involuntariamente[ii]-[iii].
“As informações da bexiga enchendo sobem pela medula e chegam na área do cérebro que interpreta e dá o comando de urinar. Quando a esclerose múltipla causa lesões medulares essa comunicação é interrompida, então pode haver espasmos da bexiga e da musculatura da pelve, impedindo o funcionamento correto”,
argumenta o urologista. De acordo com Dr. Rogerio, quando isso acontece, a bexiga não faz o esvaziamento e aumenta a pressão sobre os rins e o risco de infecções.
“É por isso que o grande objetivo do tratamento da retenção urinária crônica associada à esclerose múltipla é deixar a bexiga com baixa pressão para evitar o risco de lesões renais e perda de função renal que pode levar a infecção generalizada e óbito”,
afirma.
Atualmente, o tratamento adequado para a condição é o cateterismo intermitente limpo (CIL). Trata-se da forma de esvaziar a bexiga quando algum quadro clínico impede que isso aconteça espontaneamente, por meio da introdução de um cateter na uretra ou outro canal cateterizável.
“Manter a bexiga vazia vai proteger o rim desse paciente, então o esvaziamento de tempo em tempo, através do CIL, é um procedimento muito bem estabelecido e usado, inclusive, para outras condições neurológicas”,
explica o médico.
Segundo as diretrizes da Sociedade Brasileira de Urologia, a técnica do cateterismo intermitente limpo é considerada como o padrão ouro em cuidado da retenção urinária e é a mais difundida, porque possibilita o funcionamento fisiológico do sistema urinária e previne a distensão da bexiga, mantendo o tecido saudável e preservando a perfusão sanguínea no local, garantindo a ação das células contra a invasão e multiplicação de microrganismos. Nesse sentido, os cateteres hidrofílicos são os mais recomendáveis porque já vêm pronto para o uso, facilitando a utilização, inclusive, por pessoas sem ou com baixa destreza manual; têm orifícios polidos e lubrificados, o que reduz o atrito na inserção e retirada e, consequentemente, os traumas na uretra e porque existes evidências científicas de que reduz o risco de complicações como infecções urinárias, traumas, sangramentos na urina,[iv] além de ser preferido pelos usuários e apresentar bom custo efetividade.[v]
Diagnosticada em 2011, a aposentada Roseli Zanlorensi conta que a incontinência urinária foi um dos primeiros sintomas que percebeu.
“Comecei a sentir dormência nas pernas e aos poucos também escapes de urina. Passei por muitos ortopedistas, até um neurologista fechar o diagnóstico de esclerose múltipla”.
Com a progressão da doença, o funcionamento da bexiga foi afetado e Roseli sofreu com infecções.
“Foi uma fase muito difícil, terrível mesmo. As infecções sempre me acompanharam e não melhoravam apesar do uso de medicamentos e da fisioterapia”,
diz. O quadro só melhorou quando Roseli passou a fazer uso do cateterismo intermitente limpo.
“Comecei fazendo o esvaziamento três vezes ao dia, hoje faço seis vezes ao dia e as infecções melhoraram muito”,
comenta.
Para Rogerio de Fraga, mesmo que ainda haja muito a ser descoberto sobre a doença, o manejo da condição urológica está bastante avançado, protegendo as pessoas de agravamento do quadro.
“A esclerose múltipla, como o próprio nome diz, pode ter múltiplas consequências, mas temos tecnologia importante na urologia, que garante a qualidade de vida para as pessoas com retenção urinária”,
conclui.
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[i] Manual MSD. Versão Saúde para a Família. Por Michael C. Levin, MD, College of Medicine, University of Saskatchewan. Disponível em: Link
[iii] Coloplast Professional: Link
[iv] Nature – Spinal Cord, Prevalence of self-reported complications associated with intermittent catheterization in wheelchair athletes with spinal cord injury, 13/10/2020, disponível em Prevalence of self-reported complications associated with intermittent catheterization in wheelchair athletes with spinal cord injury | Spinal Cord (nature.com)
[v] Truzzi JC, Canalini AF, Prezotti, JA, Resplande J. Recomendações SBU 2016. Cateterismo vesical intermitente [Internet]. 2016 [citado 2019 mar 08]. Disponível em:
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