Perto do aniversário de 80 anos da Campanha da Força Expedicionária Brasileira (FEB), emergem velhos mitos de origens variadas, notadamente os de cunho antiamericano, que procuram denegrir a memória da expedição nacional. Um deles propala que o termo
“pracinha”
se origina de uma descrição pejorativa, criada pela população para designar os expedicionários. Devido à ausência de estudos a respeito do tema, decidimos tirar a história a limpo. Afinal, como surgiu esse vocábulo?
No Exército Brasileiro, o termo
“praça”
possui origem anterior à criação da Força Expedicionária Brasileira. Atribuía-se o apelido aos soldados rasos que ingressavam na caserna:
“sentavam praça”.
Entretanto, na cultura nacional do início dos anos 1940, utilizava-se a palavra
“pracinha” — única e exclusivamente —
para designar um espaço de lazer público de pequena dimensão.
Pesquisamos a respeito do tema no impressionante acervo da Biblioteca Nacional, que possui vasta coleção de jornais publicados no Brasil desde o século XVIII. Tivemos uma surpresa ao encontrar o resultado: nem os grandes jornalistas Joel Silveira e Rubem Braga gozaram dessa primazia. A maior parte dos jornais passou a empregar o termo entre o final de dezembro de 1944 e início de 1945, tomando o cuidado de colocá-lo entre aspas — um novo apelido. Braga o utilizou pela primeira vez, também entre aspas, por meio de artigo do Diário Carioca, em 31 de outubro de 1944.
Foto: Divulgação/Memorial da FEB /“O brasileiro é o ‘pracinha’ “, esclareceu Rubem Braga ao leitor, em artigo publicado pelo Diário Carioca de 31 de outubro de 1944.
No que diz respeito aos militares, a imprensa nacional inaugurou o uso do vocábulo “pracinha” dez dias antes , na edição do Diário da Noite de 21 de outubro de 1944, ao reproduzir o texto da carta de um oficial do Serviço de Saúde. O jornal publicou a correspondência escrita pelo 1º tenente médico Cyro Chesneau, do Batalhão de Saúde, à sua esposa Abigail, indicando o uso corrente do termo na tropa ao escrevê-lo desprovido de aspas.
[…] A guerra vai de vento em pôpa, nossos pracinhas estão possuídos de um espírito combativo inigualável. Lamento não poder te contar o que temos feito. […]”.
Foto: Divulgação/Memorial da FEB /Artigo do Diário da Noite, 21 de outubro de 1944.
Talvez o apelido já tivesse sido anteriormente mencionado em algum dos jornais do 1º Escalão da FEB na Itália, dentre os tantos da vasta literatura jornalística febiana na guerra, como O Cruzeiro do Sul, Zé Carioca, A Marreta, A Tocha, A Voz do Petrecho, A Arma Secreta, E a Cobra Fumou, Expedicionário, Brasil Ultramar, O Camelo, O Chicote, O Sampaio, O Vanguardeiro, Senta a Púa, Só Pennas…., e Vem Rolando. Infelizmente, exceto pelo O Cruzeiro do Sul e o Zé Carioca, com notáveis coletâneas pesquisadas e publicadas em tempos recentes, salvo alguns fragmentos sobreviventes, os demais parecem estar perdidos para sempre.
Cyro Chesneau certamente reproduziu uma palavra de uso corrente na expedição nacional, mas de autoria desconhecida. De qualquer forma, é notório que o vocábulo “pracinha” tenha sido gerado no seio do 1º Escalão da FEB, como designação carinhosa do soldado brasileiro mais humilde — e não por algum detrator no Brasil.
Os inimigos ideológicos da FEB precisam rever seus argumentos.
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Fonte: https://memorialdafeb.com/2024/06/22/qual-e-a-origem-do-termo-pracinha/
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