★★★ TRADIÇÃO E PROGRESSO EM CATALÃO
(Por Luís Estevam)
A cidade de Catalão se encontra em um momento histórico de transformação,
cruzando a ponte que leva do passado ao futuro. Nessa jornada carrega, na
bagagem, apenas o essencial. Qualquer entrave ou empecilho ao desenvolvimento
econômico vai sendo eliminado. Menos a memória coletiva, impossível de ser
apagada porque, entre cruzes e congadas residem os fundamentos culturais do
município.
Se, por acaso, estiver distante, em qualquer lugar do mundo, e alguém lhe
perguntar sobre sua terra, irá dizer primeiramente que Catalão é uma cidade
média, situada no interior do território brasileiro, que tem uma economia
bastante diversificada na indústria, comércio e agronegócio. Ou seja, uma
cidade progressista, de passado relevante e que almeja ser ainda maior no
futuro. Logo em seguida, irá relembrar a nostalgia do Morrinho de São João, do
Morro das Três Cruzes, explicar a origem do nome de Catalão e descrever, com
entusiasmo, as congadas na festa do Rosário.
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São esses os pontos fundamentais que diferenciam Catalão de outras
localidades e que fornecem identidade ao município. Formam as especificidades
da história, da geografia do lugar e da tradição.
Como cidade progressista, Catalão paga um alto preço. As velhas elites vão sendo deslocadas, os sobrenomes vão perdendo sua antiga importância e as residências do passado estão sendo, pouco a pouco, demolidas. O espaço urbano vai tomando diferentes feições e as lembranças arquitetônicas vão sendo apagadas. Sinal de que Catalão tem priorizado o desenvolvimento econômico e não se encontra voltado para glórias antepassadas.
Toda cidade é resultante de um processo histórico particular que
condiciona o seu futuro. Pirenópolis e a Cidade de Goiás, por exemplo,
sobrevivem do turismo de conservação, tendo de preservar o passado
arquitetônico, mesmo que isso comprometa a qualidade de vida dos moradores e a
infraestrutura urbana. Caldas Novas, por sua vez, encontrou no lazer o eixo de
sua economia, Rio Verde e Cristalina no avançado agronegócio e assim por
diante. A própria capital, Goiânia, sobrevive como centro comercial varejista e
do turismo de negócios.
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Catalão avança no processo econômico e na busca de qualidade de vida para
os moradores. Nem por isso, pode esquecer os fundamentos de sua existência. Um
vilarejo que teve início em 1722, quando um bando de aventureiros se desgarrou
da Bandeira do Anhanguera e aqui ficou plantando roças no vale do Pirapitinga.
O local se tornou um afamado ponto de pouso, conhecido por Sítio do Catalão. As
primeiras construções surgiram à beira do córrego e, com o tempo, ocuparam todo
o vale, subindo pelas encostas do Pirapitinga.
No ano que vem, completam 300 anos que esse processo começou, na passagem
do Anhanguera em julho de 1722. O marco histórico dessa época seria a cruz que
esteve fincada no município e levada para Goiás Velho, onde ficou exposta por
quase um século e depois encostada em uma parede de museu daquela cidade.
Não se trata de reivindicar a cruz de volta para Catalão, na verdade, um
graveto depois de tanta chuva, sol e enchentes que enfrentou. Cultura não se
faz alisando relíquias e sim através de vigorosas representações. O importante
seria erguer um monumento no local em que foi retirada, criando um sítio
histórico e traçando um corredor turístico, do rio Paranaíba até Catalão, em
memória dos 300 anos da estadia do Anhanguera por aqui. Poderá ser um novo
marco cultural para o município, eternizando sua origem e seu fundador.
Outra medida de representação cultural seria a elevação de três grandes
cruzes de concreto, no alto do Morro das Três Cruzes, iluminadas à noite como o
Cristo Redentor, visíveis em todo o vale do Pirapitinga. Afinal, a tradição do
Morro das Três Cruzes é ainda mais antiga do que a bela capelinha do Morrinho
de São João.
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Por fim, a pauta mais importante se encontra na tradição cultural do
município. As congadas de Catalão constituem o maior acontecimento religioso e
folclórico regional. A sua continuidade e organização carecem do apoio das
associações, clubes de serviço e entidades empresariais catalanas. Não somente
de doações esporádicas ou auxílios fortuitos por ocasião da festa. É necessário
institucionalizar e criar um aparato de segurança financeira para realização
das congadas.
A essência do evento é a religiosidade. A festa é apenas manifestação
folclórica dessa profunda devoção a N.S. do Rosário. Tanto que, a irmandade
sobrevive, há quase um século e meio, graças à abnegação dos capitães, ao
esforço dos organizadores e a benevolência da comunidade. Trata-se de um evento
cultural que identifica Catalão e que
deve ser incentivado de todas as maneiras.
Um projeto interessante seria a realização frequente de ensaios, ao longo
do ano, que servissem de fonte de renda
para os ternos. Os ensaios seriam ocasiões de lazer para toda a população e, ao
mesmo tempo, para momentos de expressão religiosa da comunidade. Para tanto, a
primeira providência seria a criação de um espaço adequado para tal finalidade.
No todo, medidas compatíveis com o progresso do município e que perenizam
os fundamentos culturais de nossa terra.
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