RAÍZES DA INDEPENDÊNCIA E LIBERDADE EM CATALÃO...
(Por Luís Estevam)
Entramos na Semana da
Independência, época das comemorações do 7 de Setembro. Mais um ano em que não
haverá desfile cívico por causa da pandemia. Apesar de tudo, a data constitui
uma boa oportunidade para revisitar o passado da nação, que completa 199 anos
de independência, bem como o de Catalão, na época, um longínquo arraial isolado
no sertão.
O gesto político da
independência brasileira, ocorrido em 7 de setembro de 1822, surgiu no seio da própria corte portuguesa residente no Rio de Janeiro. Demorou para que a
notícia se espalhasse alcançando os recantos do imenso território nacional.
Foto: (Reprodução) /Luís Estevam - Academia Catalana de Letras /Quadro de Pedro Américo, uma metáfora da independência, feito em 1888, em exposição no Museu do Ipiranga.
Na época, não havia
rede de comunicação e as notícias andavam mesmo a cavalo. As autoridades de
Goiás, por exemplo, somente ficaram sabendo da Independência do Brasil dois
meses depois da histórica decisão de Dom Pedro I, através de uma carta que um
padre de Franca enviou para a Cidade de Goiás, em novembro de 1822, comentando
o assunto.
Foto: (Reprodução) /Luís Estevam - Academia Catalana de Letras /foto de Dom Pedro I
De fato, Goiás esteve
relegado durante o período. Depois da derrocada da mineração do ouro, o
território entrou em profunda decadência econômica. Tanto que, na época da
Independência, o historiador Lemos Brito, ao fazer um balanço de todas as
províncias brasileiras, preteriu Goiás.
Registrou apenas que, de Goiás não há nada para falar. A sua renda não dá nem
para pagar a meia dúzia de funcionários públicos que sustenta.
O cenário em Catalão,
entretanto, não era o mesmo. Aqui não teve ouro e nem derrocada da mineração.
Quando o Brasil se
tornou independente, o arraial do Catalão já ostentava um século de existência,
sem extração aurífera e muito menos escravismo. O trabalho, no lugarejo, era de
tradição livre, desde o início, voltado para a economia de subsistência com
pequena comercialização de gado e produtos da lavoura.
Além disso, o modesto
arraial servia como porta de entrada e saída do território goiano, servindo de
ponto de pouso e estadia para os viajantes do litoral.
A bem da verdade,
sempre foi um local mal visto pelas autoridades. No ponto de pouso do Catalão
houve desvios de mercadorias, crimes hediondos, servindo de esconderijo para
bandoleiros perseguidos pela justiça. E, houve muito atrevimento. Em 1736, por
exemplo, mataram um graduado oficial paulistano, que chefiava uma escolta de 50
soldados que viera colocar ordem em Goiás. O assassino foi o filho de um velho
bandeirante e o fato aconteceu bem na porta de sua casa comercial, no sitio do
catalão.
Uma tentativa sutil de
apagar o passado violento do lugarejo foi a
criação da comarca do Paranaíba. Mas, o povoado não mudou de nome e a
tradição venceu. De sítio, arraial, tornou-se vila e cidade, sempre com a
denominação original: terra do catalão.
De fato, a ânsia de
liberdade e da independência, em Catalão, somente pode ter vindo do seu
fundador. Um homem originário da Catalunha, região que luta pela independência
há séculos, de forma obstinada e
incansável.
Na época da
Independência do Brasil, aqui chegaram os primeiros migrantes de Minas Gerais,
dado o esgotamento na ocupação das sesmarias em Araxá e região do Desemboque no
Triângulo Mineiro. Em 1822, veio a família de Mariano da Silva, que se tornou
conhecido pelas suas terras na fazenda dos Casados, ganhando a alcunha de
Coronel Marianinho dos Casados. Em 1830, Roque Alves de Azevedo chegou de Bom
Sucesso-MG, tornando-se um líder político em Catalão, de onde jamais saiu,
cultivando terras na região de Olhos D'água. A partir daí, vieram levas de
mineiros para cá, trazendo lotes de escravos.
No princípio, não eram
pessoas de grandes posses. Na verdade, eram trabalhadores rurais, ousados e
dispostos, que enfrentaram enormes desafios na lavoura e na criação de gado. No
interior das fazendas antigas, não havia distinção aparente entre fazendeiro e
agregados. A comida, a vestimenta e a rotina do trabalho homogeneizava a todos,
encurtando o distanciamento social e a hierarquia. Aliás, ser
"fazendeiro" era estar sempre fazendo algo, ocupado dia e noite na
lida rural.
Assim, os catalanos,
com independência na labuta diária, liberdade nas decisões e fiéis às
tradições, foram construindo a sua própria história.
Foto: (Reprodução) /Luís Estevam - Academia Catalana de Letras /A bandeira oficial do Brasil logo após a independência
Com o tempo, Catalão
demonstrou ter uma identidade vigorosa e seus filhos um caráter muito forte.
Graças a localização geográfica, o município nunca pertenceu, de fato, nem a
Minas, nem a Goiás. As decisões administrativas de Minas não abrangiam Catalão
e as imposições políticas de Goiás não tinham força na localidade.
Os filhos de Catalão
herdaram a desconfiança dos mineiros, mas renegaram a sua matutice. Desde cedo,
assimilaram a modernidade e se voltaram para o comércio e indústria sob a
influência de paulistas e de imigrantes
estrangeiros.
Enfim, a identidade
catalana, forjada na sua história, é
bastante forte e o orgulho passou a repousar no cultivo da tradição. Os
catalanos não costumam pisar em falso porque os fundadores do lugar e os
antigos moradores jamais o fizeram. A tradição de independência e de liberdade
continua viva e acesa no caráter dos filhos da terra. (Luís Estevam)
Fonte: Luís Estevam
Esta matéria é em
oferecimento de;
FOLHA DE CATALÃO – A NOTÍCIA
DE FORMA DIRETA!!!
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