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★ NOSSAS HISTÓRIAS, NOSSA CATALÃO - O sonho do trabalhador rural era modesto: exibir um bom chapéu, ter uma camisa de manga comprida e uma calça de algodão.

Fotos: (Reprodução) /Luís Estevam - Academia Catalana de Letras   

ORIGENS DO ARRAIAL DA PEDRA BRANCA

 

(Por Luís Estevam)

 

Nas primeiras décadas do século passado, a Pedra Branca contava com apenas meia dúzia de casas e uma capela dedicada a Nossa Senhora das Mercês. Situava-se em um terreno de confluência entre fazendas e ainda não tinha reconhecimento administrativo municipal. A paróquia Mãe de Deus, em 1919, com a intenção de conservar o vilarejo e sua igrejinha, adquiriu o terreno de dois alqueires em acordo firmado com os fazendeiros limítrofes. Pelo preço de 150 mil réis, o arraial passou a pertencer à igreja católica, conforme escritura assinada pelo comprador, padre Fidelis del Val e pelos vendedores, João Quintiliano de Avelar, Antonio Machado da Fonseca e Pedro Gonçalves de Miranda.


No entanto, a história da região da Pedra Branca é muito mais antiga. Começou com a ocupação de uma sesmaria pelo coronel Marianinho dos Casados que lá estava na época da independência do Brasil. O coronel desbravou a região da Fazenda dos Casados, formando a grande prole da família Mariano. Mais tarde, na segunda metade do século XIX, outros migrantes vieram de Minas Gerais e adquiriram glebas de terra, principalmente na área limítrofe ao rio Paranaíba. Entre eles, os precursores das famílias Ferreira e Lourenço.


Não há, em Catalão, quem não conheça pelo menos um membro dos Ferreira ou dos Lourenço. São centenas de descendentes que, há um século e meio, participam do desenvolvimento econômico, cultural e social do município.


Lourenço e Ferreira têm raízes no mesmo tronco familiar e compartilham a mesma região. Os pioneiros,  vindos do Alto Paranaíba, cultivaram terras próximas ao rio, nas cercanias dos vilarejos de Olhos D'água e Pedra Branca.


A comunidade dos Lourenço  situa-se na região do Retiro, Mata, Babilônia e Mata-Cachorro. Dividem glebas de terra na divisa entre Cumari e Catalão, ao longo da velha estradinha que leva ao povoado da Pedra Branca. São descendentes diretos do patriarca Lourenço Ferreira da Silva, que ocupou aquelas terras ainda no século XIX. Entre seus descendentes diretos estão Vicente Lourenço e Antonio Lourenço que deixaram vários filhos e netos pela região.


A comunidade dos Ferreira, por sua vez, situa-se nas cercanias do povoado da Pedra Branca, local onde o patriarca Manoel Ferreira da Silva se instalou depois da metade do século XIX. Entre seus descendentes diretos, o mais conhecido foi Joaquim Ferreira da Silva, a quem chamavam de Vô Ferreira.


Na verdade, os dois migrantes pioneiros vieram juntos e pertenciam à mesma família. Na época, eram jovens trabalhadores rurais do Triângulo Mineiro, atraídos pelas terras férteis da beira do Paranaíba, nos limites meridionais do município de Catalão. Com o tempo, as propriedades foram se expandindo, sendo repartidas entre os filhos. Mas, tudo com muita dificuldade.


A vida na roça era muito dura e o trabalho árduo, constante e interminável. Os moradores viviam com o pé na terra, ocupados na lavoura e na criação de gado. Era o reino do esforço, suor e, ao mesmo tempo, da simplicidade.


O sonho do trabalhador rural era modesto: exibir um bom chapéu, ter uma camisa de manga comprida e uma calça de algodão. Além disso, possuir uma mula bem arreada para o passeio e uma vistosa junta de bois para o carro. Para tanto, os roceiros levantavam cedo, tiravam o leite, tratavam dos porcos, jogavam milho para as galinhas e seguiam para a lavoura onde se ocupavam  até o pôr do sol. Eram predestinados ao trabalho pesado.


As mulheres também participavam dessa dura jornada. Cuidavam dos afazeres domésticos, da horta, auxiliaram na criação do gado e na colheita da lavoura. Sonhavam em se vestir bem, usando colares, brincos e anéis nas festas religiosas e bailes da zona rural.


Uma vida dura e simples, sem gastos supérfluos, que permitiu que vários migrantes aumentassem o patrimônio e alargassem suas propriedades. Mesmo porque, as terras virgens do cerrado eram bastante acessíveis antigamente.


A genealogia dos Ferreira foi registrada em livro pelos próprios familiares, fruto de criteriosa pesquisa da qual participou o advogado Manoel Januário Ferreira. São histórias de sucesso, derrotas, alegrias e tristezas.


Vale a pena revisitar a saga da numerosa família que deu origem aos Ferreira e Lourenço, com tantos descendentes no município de Catalão.


Como mencionado, tudo começou quando dois rapazes, Manoel Ferreira da Silva e Lourenço Ferreira da Silva, aqui chegaram na segunda metade do século XIX. O primeiro deu origem à numerosa família Ferreira e o segundo aos membros da comunidade dos Lourenço.


Um dos filhos de Manoel Ferreira, tornou-se grande produtor e residiu na Fazenda Velha, ao lado do ribeirão do Ouvidor. Com a morte precoce do pai, Joaquim Ferreira da Silva,


de apenas 12 anos de idade, assumiu o árduo trabalho no campo para tirar o sustento próprio e o de seus irmãos. Casou-se com a vizinha, Alexandrina Maria da Fonseca e comprou várias glebas limítrofes. Os irmãos de Joaquim Ferreira, Pedro, Antonio, Joaquina e Sebastiana se casaram e também deixaram muitos filhos, todos afeitos ao trabalho rural.


Mas, Vô Ferreira viveu uma grande contrariedade. Sua filha mais velha, Maria Ferreira da Fonseca, contraiu núpcias com Vigilato Urias, tendo sido por ele assassinada em 1918, aos 26 anos de idade. Do seu relacionamento com o marido, pouco se sabe, pois, Vigilato, logo após o crime, cometeu suicídio. O casal foi enterrado na mesma sepultura, um corpo sobreposto ao outro, no cemitério da Pindaíba,  hoje desativado e coberto de matagal, na fazenda do mesmo nome, a 25 quilômetros de Catalão.


Grande parte da memória catalana passa pela região da Pedra Branca. De lá retiraram, em 1914, a Cruz do Anhanguera e levaram para a Cidade de Goiás. O lenho de aroeira, esquecido na entrada de uma mata, em um monturo de terra escavada, ali permanecera por quase 200 anos.


Hoje o povoado da Pedra Branca conta com cerca de 60 moradias, dois bares, uma escola desativada e a velha capela das Mercês. A maioria dos habitantes é oriunda de Minas Gerais. São aposentados que desfrutam da proximidade com o rio Paranaíba e da tranquilidade do vilarejo.


A agricultura moderna se expandiu pela região, que ainda ostenta velhas sedes de fazenda, relembrando o glorioso passado e os precursores do arraial da Pedra Branca. 


(Luís Estevam)

 

 

 

 

Fonte: Luís Estevam

 

 

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