A BUSCA DE ENERGIA ELÉTRICA PARA CATALÃO...
(Por Luís Estevam)
Há cem anos atrás, havia uma dúzia de postes de aroeira, com lâmpadas tipo
"tomate maduro",
enfileirados desde a entrada principal da Rua da Grota, até a Rua
do Meio, nas cercanias do largo da Velha Matriz. Era o serviço de iluminação
pública de Catalão.
Na verdade, os postes
de luz pouco clareavam, mas serviam para jagunços praticarem tiro ao alvo nas
madrugadas de festança. Até mesmo, o próprio Intendente Salomão de Paiva, vez
por outra, fazia disparos contra as lâmpadas ao sair pelos bares noite adentro.
Depois mandava instalar novas lâmpadas.
Ainda não havia, em
Catalão, serviço adequado de geração e tampouco distribuição elétrica. A cidade
vivia no escuro. Cada morador, ao sair de noite, portava uma vela, lamparina ou
lanterna para iluminar o caminho.
Nas fazendas mais
ricas, os donos fechavam represas e instalavam geradores, suficientes para o
consumo na propriedade. Na zona urbana, poucas indústrias, como a dos Margon,
construíam usina própria para consumo privativo de energia.
Na década de 1930, um
imigrante árabe resolveu investir pesado no setor. Abriu um canal na vazante do
Pirapitinga, próximo a Cumari, instalou uma casa de máquinas e gerador,
passando a ofertar energia elétrica para toda a cidade de Catalão. Daquele
momento em diante, a empresa de Força e Luz, do Sr. Nasr Faiad, passou a fazer
parte da história de Catalão.
A princípio, a demanda
por energia correspondia à oferta do empresário. Mas, com o surgimento de novas
fábricas e a expansão urbana, o serviço de energia elétrica ficou comprometido.
Em 1940, a situação
esteve caótica e intolerável. A baixa geração não permitia a abertura de novas
fábricas, operários buscavam oportunidades de trabalho em outras localidades e
os alunos não podiam ter aulas noturnas por falta de iluminação. Por cima, a
população se sentia lubridiada por pagar 220 volts e receber somente 120 volts
no consumo doméstico. Além do que, não havia medidores e a cobrança se dava
pela potência oferecida e não pelo consumo aferido.
Conforme relatos, a
insuficiência energética impediu que prefeitos audaciosos, como Publio de Souza
e Armando Storni, levassem adiante projetos importantes para o desenvolvimento
municipal.
O quadro de
insatisfação sensibilizou o jovem João Netto de Campos que, na condição de
candidato a prefeito em 1947, prometeu solucionar o problema energético em
Catalão. Mas, o ambiente político era conservador em todo o estado de Goiás.
Tanto que, João Netto, logo depois de eleito, recorreu ao governador de São
Paulo, seu amigo Adhemar de Barros, buscando alternativa viável para a questão.
Assim, a companhia
Prada de eletricidade, que já operava no Triângulo Mineiro, projetou a Zona Goiás para extensão da
empresa, visando alcançar a cidade de Catalão. Mas, não seria um processo de
fácil implementação. A Prada, firma paulista de distribuição elétrica, teria de
fazer enormes investimentos no território goiano.
Primeiro, veio o
decreto de encampação da empresa do Nasr Faiad. Em maio de 1950 ficou
transferida à Cia Prada de Eletricidade a concessão, antes outorgada à antiga
firma de Força e Luz de Catalão. O resultado imediato foi desastroso, porque a
cidade ficou temporariamente sem energia elétrica.
A Prada considerava a Zona Goiás como um verdadeiro sertão. Um dos diretores da empresa, Júlio Endetta, veio com a família imediatamente para Catalão, com o objetivo de assumir, distribuir e produzir energia. A empresa deu até arma de fogo para o diretor se proteger.
Em Catalão, Júlio
Endetta partiu para o trabalho. Auxiliado pelo fazendeiro João Evangelista da
Rocha, a pedido de João Netto, limpou todo o canal que levava água para a
antiga usina, reparou a casa de máquinas, lubrificou o velho gerador e, em uma
semana, a eletricidade estava de volta a Catalão. Precariamente, mas estava. A
cidade ficou toda iluminada à noite.
Em seguida, a Prada foi
colocando um poste aqui, outro ali, e assim por diante. Mas, o velho problema
de insuficiência na geração elétrica continuava. As indústrias consumiam toda a
energia disponível. Mas, pelo menos, a Prada tinha uma forma de cobrança mais
amena, baseada no consumo real de cada morador.
O ideal seria a conexão com os geradores paulistas via Triângulo Mineiro. Mas, essa junção elétrica foi demorada. Em 1950 foram autorizados os serviços de transmissão entre Araguari e Cumari. Somente em 1962, foi iniciada a construção da linha de transmissão no percurso Goiandira-Catalão.
Anteriormente havia um
rígido escalonamento na oferta de energia em Catalão. Nada funcionava à noite
antes do encerramento do expediente industrial. Nem mesmo as máquinas de
projeção de filmes, nos cinemas da
cidade, recebiam aporte energético suficiente. Muito menos, a novidade dos
chuveiros elétricos, a iluminação pública e a energia nas casas da cidade.
Certo que, a partir da
ligação com a geração Prada no Triângulo Mineiro, a situação melhorou bastante em Catalão.
Ainda assim, grande parte da cidade não era servida de energia. O bairro São
João, por exemplo, ainda vivia nas lamparinas
e na queima de óleo diesel nas residências, por ser mais barato que o
querosene. A energia da Cia Prada não alcançou o ideal para Catalão. Mas, era
bem melhor do que a antiga empresa local.
Na década de 1970, com
a movimentação das mineradoras, interessadas em se instalar em Catalão, o problema energético veio novamente à tona.
Foi quando os dois irmãos políticos,
Silvio e Ênio Pascoal, assumiram a liderança no município.
Na época, o deputado Ênio Pascoal conseguiu trazer a Celg, Centrais Elétricas de Goiás, quando seu irmão, Silvio Paschoal, era o prefeito da cidade, encampando a Cia Prada de Eletricidade. Como representante da região sudeste, o parlamentar estendeu a energia da Celg para Ouvidor, Três Ranchos, Davinópolis, Goiandira, Cumari e Nova Aurora.
Na verdade, o problema
era regional e não somente de Catalão. Davinópolis, por exemplo, teve uma usina
elétrica, construída pelo engenheiro
Hélio Martins no rio São Bento. Mas, com a Celg, foram servidos igualmente, com
geração de Cachoeira Dourada, todos os municípios do sudeste.
Verdade que, a Celg
enfrentou grandes problemas no processo de distribuição elétrica. Porém, com a
privatização da empresa, Goiás passou a comprar energia mais cara da Cachoeira
Dourada, onerando os consumidores.
Em resumo, a busca de
energia elétrica para Catalão, teve a importante participação do imigrante Nasr
Faiad que investiu pioneiramente no setor, de João Netto de Campos que trouxe a
Cia Prada de eletricidade e dos irmãos, Silvio e Ênio Pascoal, responsáveis
pelo ingresso da Celg na região.
Com a venda da Celg, a gigante italiana Enel passou a cuidar da distribuição elétrica em Goiás. Mas, os problemas de geração e de distribuição elétrica ainda sobrevivem.
(Luís Estevam)
Fonte: Luís Estevam e Academia Catalana de Letras
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