
Foto: (Reprodução) /Luís Estavam - Academia Catalana de Letras
Fragmento de nossa rica história de hoje, temos a "Tumultuada Inauguração da Estação Ferroviária...
(... Por Luís Estevam ...)
A história de Catalão é repleta de particularidades. Quase sempre o inesperado acontece. Quem acha, por exemplo, que a inauguração da estação ferroviária foi um alegre acontecimento está redondamente enganado. A festa não se realizou como programada, frustrando os inúmeros convidados.

Eram quase 11 horas da manhã, no dia 24 de fevereiro de 1913, quando a locomotiva chegou, pela primeira vez, em Catalão. Vinha de Araguari, puxando quatro vagões de passageiros, abarrotados de convidados para a cerimônia. Entre eles,
- o diretor da estrada de ferro, Luiz Schnoor,
- o administrador da ferrovia, Vicente Marot,
- o mestre de linha, João Marques Rolo,
- o intendente municipal de Araguari, Cel Olímpio dos Santos, vários jornalistas de Uberaba,
- diversos engenheiros da ferrovia
- e a banda de música "União Araguari".
Como orador oficial, convidado pela companhia, vinha também Ricardo Paranhos, um catalano que, na época, residia em Araguari.
A estação, recém-construída, estava repleta de populares e os políticos de Catalão aguardavam efusivamente a comitiva. A inauguração da estrada de ferro era um acontecimento e uma grande festança estava preparada para a comunidade catalana. Todavia, a festa não aconteceu e, por pouco, um cerrado tiroteio não marcou a sangrenta história da cidade.
Naquele dia, Ricardo Paranhos, ao descer do trem, preparava-se para iniciar o discurso quando foi surpreendido por Isaac da Cunha que, de arma em punho, proferiu:
"Aqui você não fala, bandido! E, se o fizer, te arrebento a boca com um tiro!"
Meio a empurrões, gritos de mulheres, bate-boca e ameaças de tiroteio, o povo raleou e a festança não aconteceu.
A briga era de gente graúda.

Ricardo Paranhos era parlamentar estadual e capitão da Guarda Nacional. Isaac da Cunha, coletor federal de impostos, era também major da Guarda Nacional. O primeiro era filho do senador Antônio Paranhos, assassinado friamente há pouco mais de uma década, na rua central de Catalão. O segundo era filho do intendente Elizeu da Cunha, um dos assassinos do velho senador. Era antiga a rixa política familiar.
Sem comemorações, a direção da ferrovia deu por inaugurada a estação e os visitantes foram para o hotel do Sr. José Pedro, próximo do largo ferroviário. Lá, em almoço restrito, Ricardo Paranhos, um tanto desmoralizado, proferiu o seu esperado discurso para os representantes da imprensa.
Naquele dia houve uma profunda modificação nos destinos de Catalão, tanto em termos políticos, como na economia do município. O episódio consolidou a decadência da era Paranhos e a ascensão das famílias Aires e Cunha no comando politico. Por outro lado, o progresso econômico obteve forte arrancada com a chegada da ferrovia.

No dia seguinte ao episódio, alguns cidadãos, ressentidos com os fatos ocorridos, assinaram um ofício endereçado ao presidente da província, pedindo urgentes providências para restaurar a ordem política em Catalão.
- Assinaram o pleito
- Joaquim Rodrigues Lopes,
- Antonio de Mesquita,
- Alfredo Paranhos,
- Antonio Gomes Pires,
- Zacharias Borges Tavares
- e Manoel Dias dos Santos.
Ainda assim, medidas não foram tomadas.
Isaac da Cunha era um homem temido e valente que abusava, às vezes, de sua influência. Em 1916, quando delegado de polícia, atacou os trabalhadores da estrada de ferro, em represália pela morte de uma prostituta e de um soldado, fazendo doze vítimas fatais e mais de vinte feridos em tocaia na saída dos trilhos para Ouvidor. Na ocasião, entre os mortos estavam dois meninos que trabalhavam de ajudantes na ferrovia. O episódio ficou conhecido, na história, como o massacre dos turmeiros.
Contudo, o major Isaac da Cunha teve um fim trágico poucos anos depois. Encontrava-se bebendo no armazém do Sr. Nhonhô, logo abaixo dos trilhos, quando foi morto a facadas pelo próprio tio, Amadeu da Cunha. No ato, Oswaldo Cunha, primo e companheiro de Isaac sacou de um revólver e matou o tio assassino.

Ricardo Paranhos, por sua vez, abandonou a política, dedicou-se à literatura, e não voltou mais a residir em Catalão. Mudou-se de Araguari para Corumbaíba, onde faleceu bem depois, em 1941.
O mais importante de tudo é que, a vinda da estrada de ferro transformou a economia e a sociedade em Catalão. Antes da ferrovia, em 1910, o município tinha 25 mil habitantes. Em 1920, com a estrada de ferro, alcançou 38 mil moradores, tornando-se a cidade mais populosa do território de Goiás.
Com os trilhos vieram os imigrantes estrangeiros. Em curto período chegaram 232 árabes, 73 portugueses, 61 italianos entre outras nacionalidades. Daí em diante, a face econômica e social do município se transformou.
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