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★ NOSSA HISTÓRIAS, NOSSA CATALÃO - A década de 1950 ficou conhecida, nos Estados Unidos, como "anos dourados" em função da prosperidade, novos costumes, otimismo e avanço tecnológico naquele país.

Foto: (Reprodução) /Luís Estevam e Academia Catalana de Letras 

O clima de otimismo em Catalão não era diferente. Foi o período em que entusiasmo e jovialidade impregnavam o ambiente urbano do município... 


ANOS DOURADOS EM CATALÃO 

Por Luís Estevam

 

A década de 1950 ficou conhecida, nos Estados Unidos, como 

"anos dourados"

em função da prosperidade, novos costumes, otimismo e avanço tecnológico naquele país. Foi um tempo em que reinava a confiança em um mundo melhor, a mulher conquistava maior espaço na sociedade e velhas tradições eram sepultadas.


No contexto brasileiro foi a época do nacionalismo exacerbado e anseio pela modernidade. Surgiam o cinema novo, a televisão, a produção em massa de eletrodomésticos, automóveis, enquanto JK construía a nova capital federal.


O clima de otimismo em Catalão não era diferente. Foi o período em que entusiasmo e jovialidade impregnavam o ambiente urbano do município. As pessoas estavam sempre procurando diversão e se mostravam felizes, alegres e brincalhonas.

Foto: (Reprodução) /Mauro (Pinguim), Macaúba, Pinduca, José Martins, Silvio Salomão, Geraldo Boaventura e Edinho Madruga. De pé, o proprietário, José Pedro. Wisner Tartucci, Mário Nicoletti, Tonim Português, em volta de José Pedro


Os catalanos, na década de 1950, haviam criado um espaço de diversão nas imediações da praça Getúlio Vargas. Ali, as pessoas se reuniam descontraidamente para dar um passeio, comentar moda, política, novidades e discutir futebol. Alguns tomavam vitamina, outros chope, cerveja, jogavam sinuca, antes de entrar para o cinema e para os bailes do Crac ou Clube Treze de Maio. Tudo ocorria  nas imediações da praça do jardim, onde os mais jovens se entretinham em bate-papo e namoricos.


No coração desse verdadeiro perímetro da felicidade situava-se o bar Antarctica, dos irmãos José Pedro e Fued Pedro. Embora localizado bem rente ao salão de festas do Crac, era frequentado por todas as camadas sociais. Só que ninguém falava bar Antarctica. O estabelecimento era conhecido como bar do José Pedro ou bar do Fued Pedro.


Foto: (Reprodução) /Bar Antarctica, de José Pedro e Fued Pedro

Os dois irmãos foram pioneiros em montar um comércio de bebidas, de primeira classe, naquelas adjacências. Inclusive, não existiam geladeiras na década de 1940. Mas, José Pedro amarrava os sacos da bebida e colocava dentro da salmoura de fazer picolés. Com isso, inaugurou a venda de cerveja gelada em Catalão. Quando a panificadora São José ainda se dedicava a fabricar e entregar pães em domicílio, José e Fued Pedro já eram referência no ramo de bebidas. O bar era o epicentro político, cultural e etílico de Catalão.


Em agosto de 1947, quando João Netto de Campos foi indicado, em convenção, para candidato a prefeito, seus companheiros foram comemorar no bar do José Pedro. Mas, lá estavam os Sampaio, adversários políticos. Com o bar lotado, o ex-prefeito Diógenes Sampaio aproveitou o público, pediu silêncio e proferiu um vigoroso discurso de oposição ao novo candidato João Netto.


Foi quando o advogado Tharsis Campos, pedindo a palavra, estreou um discurso político pausado, ponderado, convincente e arrasador em prol de João Netto. Foi bastante aplaudido. Ninguém imaginava que fosse a primeira vez que Tharsis Campos usava a palavra, de improviso, em público. Naquela noite, no bar Antarctica, ficou consolidada oficialmente a candidatura do jovem estreante na política, João Netto de Campos.


Foto: (Reprodução) /Os irmãos Nicoletti: Mário, Wanderley e Irineu

Pouco tempo depois, a panificadora vizinha, dos irmãos Nicoletti, abriu concorrência inaugurando o bar Faixa Azul, servindo chope e cerveja trazidos diretamente de Ribeirão Preto. Tornou-se também um local de bate-papo e degustação de primeira classe. A antiga padaria passou a ser muito frequentada, servindo chope e sanduíches de mortadela. Inclusive, em 1958, a panificadora São José viveu um dia histórico com as transmissões ao vivo da copa do mundo.


Foto: (Reprodução)

Os proprietários eram filhos de imigrantes. A padaria foi aberta pelo italiano Fiore Nicoletti, auxiliado pelos filhos Mário, Irineu e, mais tarde, Wanderley. Antes de fundar o estabelecimento, Fiore comprava e revendia porcos para abate em Barretos, sempre acompanhado pelo filho Irineu, que ganhou o apelido de Porquinho desde essa época.


Fued Pedro e José Pedro também eram filhos de imigrantes estrangeiros. Seus pais, o libanês Felipe Pedro e a síria Amélia, vieram para o Brasil em ocasiões diferentes, mas se encontraram em Uberabinha (Uberlândia), casaram-se e vieram residir em Catalão.


Foto: (Reprodução) /Irmã Rosa Pedro

O velho Felipe Pedro abriu um armazém e passou a vender praticamente de tudo. O casal de árabes teve três filhos: Fued, José e a Irmã Rosa, freira agostiniana que se uniu, mais tarde, ao apostolado catequista dirigido pela catalana Irmã Yolanda Mendonça Vaz.


Afeitos ao comércio, desde pequenos, Fued e José Pedro não tiveram dificuldades em administrar o bar Antarctica. Ambos eram conhecidos pela lhaneza no tratamento aos fregueses sem qualquer discriminação.


O estabelecimento tinha um grande salão, comportando lanchonete, acomodações e quatro mesas de sinuca, sempre disputadas e ocupadas pelos clientes. De manhã, alunos do colégio Roosevelt matavam aula para jogar sinuca. À tarde começava o movimento dos fregueses habituais e, à noite, o salão ficava inteiramente esfumaçado com o churrasco do José Pedro.


O Antarctica era um local divertido. Tinha um vistoso poster do Bastião Mola Faca e, na parede interna, estava escrito: 

"Chove lá fora, pinga aqui dentro". 

Havia também uma eletrola com um variado acervo de discos de vinil, principalmente tangos e boleros. Frequentemente aparecia um violeiro, o Carioca, que alegrava os clientes com famosas canções da época. José Pedro também era músico. Chegou a tocar bateria em uma banda quando mais jovem, além de ser um exímio dançarino de tango.


O irmão, Fued Pedro, era receptivo mas sistemático. Revelou ser um comerciante em tempo integral. Servia no bar e aproveitava para vender relógios de bolso Omega. O Ênio Pascoal adquiriu um que funciona até hoje na algibeira.


Foto: (Reprodução) /José Pedro e a esposa Sebastiana Martins  

José Pedro, por sua vez, era jovial e tinha um humor invejável. Por ter uma irmã freira, considerava-se cunhado de Jesus Cristo. Vez por outra, fingia estar apaixonado por uma famosa cantora argentina, Libertad Lamarque, encenando um trágico drama. Dizia que teve um caso com ela, colocava músicas sentimentais da artista e, de repente, retirava o disco da eletrola e atirava no chão ou na calçada do bar. Os frequentadores deliravam com essas demonstrações de paixão. Poucos sabiam que o disco jogado fora já estava danificado, o choro era de cebola e José Pedro era um grande ator.


Às vezes, o próprio José Pedro escrevia cartas e lia para os amigos, como se fossem da rainha do tango, Libertad Lamarque, revelando saudades e paixão. Era também muito criativo e jovial. Na época de finados fazia picolés de cor roxa e, em sete de setembro, picolés verde-amarelo conquistando a meninada.


José Pedro era a elegância em pessoa. Vestido impecavelmente com terno de linho, sempre usava sapatos scartamaque de cromo alemão. Quando iam pescar, seus amigos o convidavam e ele ia do jeito que estivesse: de terno e com seus luxuosos sapatos.  Não adiantava dizer para ele trocar de roupa para a pescaria. O seu argumento era decisivo e pontual: 

"Se eu posso ir, por que a minha roupa não pode?" 

O que muito alegrava Jales Rabelo, Ênio Pascoal, Álvaro de Mendonça Netto, Jorge e Ivo Elias, seus companheiros habituais de pesca.


Foto: (Reprodução) /Fued Pedro e a esposa Maria Marciano  

Certa vez, houve preocupação.  O bar não abriu e o José Pedro sumiu. Ninguém sabia dele. No dia seguinte resolveram arrombar o Antactica e o encontraram dormindo sobre uma das mesas de sinuca com diversos discos espalhados pelo recinto. Havia bebido demasiadamente, ou então, foi mais uma de suas representações costumeiras. Na certa, para tirar um dia de descanso.


Quando findaram os 

"anos dourados", 

o Antarctica se transformou em Bar e Restaurante Irapuan, com novo dono, bem no início da década de 1960. A clientela continuou a mesma e o espaço da alegria e diversão se expandiu com o bar Taco de Ouro, o bar das Vitaminas e a churrascaria Kambota.



Todavia, o tempo dos pioneiros, José Pedro e Fued Pedro, continuou inesquecível para quem nele viveu e para quem revisita a história do cotidiano em Catalão.


A era do jeans, beatlemania e o movimento hippie substituíram o tempo elegante e glorioso dos 

"anos dourados".


Fonte: Luís Estevam e Academia Catalana de Letras 


Esta matéria é em oferecimento de:




FOLHA DE CATALÃO - A NOTÍCIA DE FORMA DIRETA


 

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