Foto: Divulgação / Pixabay
Estudo mostra que mesmo quando ainda são bem pequenas, as crianças podem de fato se beneficiar da interação com um pet quando supervisionadas...
Com as agendas dos adultos lotadas e a dependência de tecnologia para a diversão, ficou difícil para os pequenos cumprirem a quantidade suficiente da atividade física ao ar livre, crucial para o desenvolvimento saudável. Para piorar, durante a pandemia do novo coronavírus, com os pais ainda mais afobados, a tarefa se tornou mais penosa.
Mas, de acordo com um estudo publicado nesse domingo (5) na revista Pediatric Research, uma solução pode estar estar bem aos seus pés: ter um cachorro, passear e brincar com ele pode incentivar o desenvolvimento social e emocional do seu filho.
No estudo feito na Austrália, crianças pequenas, que têm famílias com cães, apresentaram 30% menos chances de ter problemas de conduta e com colegas em comparação aos pré-escolares de famílias que não possuíam animais de estimação. Ou seja, mesmo quando ainda são bem pequenas, elas podem, de fato, se beneficiar da interação com um pet quando supervisionadas
“A atividade física regular desempenha um papel importante durante a primeira infância, contribuindo para o desenvolvimento de crianças pequenas e diminuindo o risco de desenvolver doenças crônicas, incluindo obesidade”, explicou a principal autora do estudo, Hayley Christian,
professora e pesquisadora do Centro de Pesquisa em Saúde Infantil da University of Western Australia.
Por razões que envolvem cada criança, a família e o ambiente em que vive, menos de um terço dos pequenos entre 2 e 5 anos fazem três horas de atividade física por dia – contrastando com as recomendações mundiais de que crianças em idade pré-escolar devem ser ativas ao longo do dia.
Ter um cão sempre foi associado a responsabilidades, identidade positiva, empatia e confiança. No entanto, até hoje os estudos se voltaram principalmente para crianças mais velhas e adultos e concluíram que a influência positiva dos animais de estimação no desenvolvimento era maior antes da adolescência.
Considerando a importância da atividade física para o desenvolvimento infantil e as pesquisas anteriores sobre como os cachorros podem ajudar nisso, os autores pensaram que as mesmas associações poderiam ser possíveis na primeira infância.
Como os pequenos se beneficiam
Primeiro, os pesquisadores analisaram dados de um estudo feito na Austrália chamado
"Play Spaces and Environments for Children's Physical Activity and Health" (Espaços e ambientes lúdicos para atividade física e saúde infantil, em tradução livre).
A pesquisa analisou quais aspectos da educação , dos cuidados na primeira infância, do ambiente doméstico e da vizinhança influenciavam na realização de atividades físicas, na saúde e no desenvolvimento das crianças em idade pré-escolar.
Os participantes foram crianças de diferentes níveis socioeconômicos, que frequentavam os centros de educação infantil em Perth, na Austrália.
Como explicou Christian, que também é pesquisadora do Telethon Kids Institute, instituto responsável pelo estudo, na pesquisa, os pais pontuavam o bem-estar de seus filhos em algumas áreas diferentes, usando questionários.
Uma das áreas era relacionada aos problemas de conduta, que descreviam a frequência com que as crianças perdiam a paciência, se comportavam mal ou brigavam com demais crianças. Outra, se referia aos problemas entre colegas, incluindo se eles se davam bem com outras crianças e se preferiam brincar sozinhos. O comportamento pró-social via o quanto as elas consideravam os sentimentos dos outros e se ajudariam uma pessoa machucada, chateada ou doente.
Por fim, as perguntas também mediram sintomas emocionais, hiperatividade e dificuldades gerais. Crianças de famílias donas de cães foram mais propensas a exibir níveis mais altos de comportamentos pró-sociais e tiveram menores dificuldades gerais.
Aquelas que passeavam com um cachorro de estimação com suas famílias, pelo menos um dia por semana, e brincavam com os animais, pelo menos três vezes por semana, tiveram pontuações pró-sociais mais altas do que as que o faziam com menos frequência.
“Esses resultados destacam que, mesmo um compromisso pequeno a moderado de envolver as crianças da primeira infância no tempo gasto andando com o cão da família, pode fornecer importantes benefícios sociais e emocionais”, afirmou o estudo.
A preocupação atual com o desenvolvimento e a solidão das crianças longe dos amigos e das atividades durante a pandemia
“se encaixa muito bem nos efeitos positivos de ter um cão entre as crianças pequenas”,
disse a doutora Jenny Radesky, professora de pediatria no Center for Human Growth & Development na Universidade de Michigan, que não se envolveu no estudo.
Como explicou a médica, os lobos frontais das crianças ainda estão se desenvolvendo na idade pré-escolar. Isso significa que elas ainda não formaram totalmente a capacidade de regular o comportamento ou controlar emoções e impulsos fortes – sendo assim, as pessoas costumam acreditar que crianças não se beneficiariam de ter um cachorro porque não sabem como interagir com ele.
“Este foi um bom exemplo de como, mesmo nas crianças mais novas, um cachorro pode ser uma influência positiva para o comportamento”, disse.
Desenvolvendo empatia Como analisado em outro estudo feito com adultos, as crianças podem experimentar o chamado “prazer vicário” (que acontece através do prazer de outra pessoa) e a felicidade ao brincar com os cães e notar o prazer e a felicidade deles, o que também pode levar a um melhor comportamento pró-social.
Os animais são seres sencientes, com sentimentos e pensamentos, mas não podem conversar conosco, explicou Radesky.
“A gente precisa se esforçar para entender o que o cachorro está pensando e responder ao comportamento dele. Isso tira as crianças do espaço de suas próprias cabeças e as faz pensar mais no que outro ser está pensando”, analisou a médica.
“É o aspecto mágico da empatia e da reciprocidade social, ou seja, a troca dos relacionamentos que nos ajuda a encontrar a cura durante períodos de estresse."
Para Christian, o desenvolvimento saudável ativa a capacidade humana,
“permitindo que as crianças alcancem a maturidade e participem da vida econômica, social e cívica”.
Os pets “podem ser facilitadores sociais e ajudar a ensinar as crianças sobre responsabilidade, por meio de treinamento e cuidados com os animais”, acrescentou.
O que saber antes de ter um cachorro
Como os pesquisadores não tinham muitos detalhes sobre as estruturas familiares presentes no estudo, é possível que as descobertas representem famílias capazes de fornecer ambientes mais acolhedores aos filhos.
Para a médica Radesky, o valor de ter um cachorro é uma decisão individual. Um animal implica uma série de responsabilidades significativas e caras, relacionadas a cuidar, alimentar, exercitar, vacinar, treinar e socializar. E se o seu filho for bem pequeno, você será o principal cuidador em longo prazo.
Cães vivem em média de 7 a 14 anos, e é bom pensar em como um deles se encaixaria no estilo de vida da sua família nesse tempo e como iria interagir com crianças de diferentes idades ou outros animais de estimação.
Há ainda mais benefícios de ter um animal de estimação já estudados: os donos de pets têm menor probabilidade de morrer cedo, ter ataques cardíacos, sofrer de solidão, estresse e transtornos do humor, vivenciar problemas de sono e ter baixa autoestima. Ou seja, passear com o cachorro beneficia tanto você quanto seu melhor amigo.
Mesmo assim, a ciência ainda não é tão conclusiva, já que outros estudos seguem na linha contrária e sugerem que os donos de animais têm mais probabilidade de ser solitários, depressivos e ter outros problemas de saúde. Futuramente, estudos adicionais que medem dinâmicas e ambientes familiares mais diversos nos dirão mais sobre como os animais de estimação podem impulsionar o desenvolvimento das crianças.
Quem sabe se os mesmos benefícios podem ser encontrados nas interações de seu filho com o lagarto de estimação da sala de aula, ou outro animal menos óbvio?
Fonte: CNNBRASIL Saúde
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