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Ipasgo clínica em Aparecida de Goiânia — Foto: Reprodução/TV Anhanguera
'Devemos passar da casa do bilhão em desvios' diz secretário de Segurança sobre investigações de fraudes no Ipasgo...
Após o cumprimento de 53 mandados de busca e apreensão relacionados à investigação de fraudes no Ipasgo, o secretário de Segurança Pública de Goiás, Rodney Miranda, disse que os prejuízos podem ser bilionários. De acordo com ele, podem haver mais desdobramentos desta operação da Polícia Civil, chamada de Backdoor II.
“Nós devemos passar da casa do bilhão em desvios. [...] Essa operação, certamente, vai resultar em outra e tudo isso só nessa questão do Ipasgo”, afirmou.
O Instituto de Assistência dos Servidores do Estado de Goiás (Ipasgo) informou, por meio de nota, que as investigações se referem a ações iniciadas em gestões passadas.
Além disso, o Instituto afirmou que
"apoia de forma incondicional a operação Backdoor II"
e que
"todas as informações solicitadas pelos órgãos de controle estão sendo fornecidas" (veja a nota na íntegra ao fim do texto).
Atual presidente do Instituto, Sílvio Fernandes reconheceu que há uma falha nos sistemas que dificulta o controle, as investigações e até que crimes similares sejam prevenidos.
“Hoje o Ipasgo tem mais ou menos 40 sistemas em operação, boa parte não se conversa. Fica muito difícil ter dados fidedignos. Sem os dados, não conseguimos criar parâmetros. Sem parâmetros, a gente não consegue mensurar, e quem não mensura não controla”, disse.
As investigações apontaram que os autores dos desvios usavam os sistemas do Instituto para cobrar por exames, consultas, medicamentos e procedimentos que não foram feitos.
Além disso, a Polícia Civil apura fraudes em licitações que podem ter permitido a entrada e permanência de pessoas que fazem parte do esquema.
Entre os envolvidos citados, está a empresa GT1, que presta serviços da área de Tecnologia da Informação para o Ipasgo. As investigações apontaram que ela tem como sócios os mesmos da empresa que a antecedeu e que teve nos bens bloqueados por causa de outra investigação.
Segundo a defesa da empresa, a companhia está comprometida com o compromisso de esclarecer os fatos, como explicou o advogado Rodrigo Lustosa.
“A única coisa que a empresa pode fazer e que tem feito é esclarecer os fatos. [...] A simples divulgação do envolvimento na investigação basta para que muitos presumam a culpa, mas a culpa só existe após a sentença definitiva da questão investigada”.
Operação Backdoor II — Foto: Divulgação/Polícia Civil
Investigações A primeira fase foi realizada em julho de 2019, quando a Polícia Civil apurou a participação de servidores do Ipasgo em esquema de fraudes em pedidos de exames.
À época, a corporação descobriu que muitos desses envolvidos eram funcionários terceirizados de uma empresa contratada pelo instituto, por isto, continuaram as investigações. As apurações apontaram que houve fraude em licitações envolvendo a companhia citada e nas auditorias.
Na etapa da operação realizada nesta quinta-feira, os policiais buscam documentos, celulares, computadores, entre outros elementos que possam indicar qual a relação dos investigados com o Ipasgo.
A apuração é conduzida pelo Grupo Especial de Combate à Corrupção (Geccor). O delegado Maurício Passerini explicou que as investigações levaram a Polícia Civil à GT1.
"Hoje nós sabemos que os personagens são profissionais da TI que atuam no Ipasgo, clínicas, laboratórios e grandes hospitais", explicou.
O delegado explicou ainda como funcionavam as fraudes:
"A pessoa estava internada, usava um medicamento e lançava-se cinco. Na auditoria viam o excesso, tiravam, mas, depois, eram lançados de novo antes do pagamento e eram pagos todos os medicamentos", explicou.
As apurações da Polícia Civil apontaram ainda que haveriam médicos envolvidos realizando auditorias que não poderiam fazer.
Também investigando irregularidades no Ipasgo, a Controladoria Geral do Estado apontou que mais de 240 mil exames teriam sido autorizados de forma irregular nos últimos oito anos, movimentando cerca de R$ 14 milhões.
A CGE havia apurado ainda que quatro licitações envolvendo uma das empresas investigadas foram fraudadas, tendo movimentado nestes casos cerca de R$ 63 milhões.
Polícia apura suspeita de fraude e desvio de dinheiro no Ipasgo — Foto: Polícia Civil/Divulgação
BackDoor I
Na primeira fase da operação, a Polícia Civil identificou que as fraudes aconteciam no sistema do Instituto mediante pagamento de propinas e resultaram em ganho de cerca de R$ 7 milhões.
À época foram investigados profissionais da área de TI, clínicas, laboratórios e hospitais. As investigações apontaram que era criado um usuário fantasma no sistema que realizava vários tipos de manobras indevidas para autorizar exames, cirurgias, entre outros.
Segundo a corporação, foram cobrados do Ipasgo procedimentos não realizados e medicamentos que não foram usados.
Veja nota do Ipasgo
A nova gestão do Instituto de Assistência dos Servidores do Estado de Goiás (Ipasgo) apoia de forma incondicional a operação Backdoor II, que apura corrupção envolvendo hospitais e laboratórios particulares com envolvimento de colaboradores do plano de assistência. Todas as informações solicitadas pelos órgãos de controle estão sendo fornecidas.
O Ipasgo esclarece que as investigações se referem a ações iniciadas em gestões passadas e podem ter sido facilitadas pela fragilidade do sistema de tecnologia do órgão. Atualmente, o instituto possui mais 40 sistemas de tecnologias, que não são integrados e têm defasagem, que permitem, por exemplo, lançamento de serviços não realizados e desvios financeiros. Como apura a Polícia Civil do Estado nas operações Backdoor II, Morfina e Metástase.
A gestão do plano espera que todos os fatos relativos a tais denúncias sejam adequadamente apurados. Desde o início do ano passado, o Ipasgo atua para fortalecer as medidas de transparência e o combate à corrupção. Uma comissão de ética e transparência foi instaurada e fez levantamentos técnicos sobre a situação do plano. Os primeiros indícios de fraudes e desvios apareceram nestas auditorias internas e os dados foram reportados à Controladoria Geral do Estado (CGE).
Em 2019, o Ipasgo também aderiu ao Programa de Compliance Público e, seguindo as determinações do governador Ronaldo Caiado, está implementando, de forma contínua, ações para ampliar a transparência, gestão de riscos e controle dos atos, com o objetivo de combater quaisquer atos de corrupção na administração pública.
A nova gestão do Ipasgo defende a modernização dos sistemas de tecnologia e gestão, bem como o fortalecimento das ferramentas de combate à corrupção para conter estes tipos de fraudes e irregularidades, que podem colocar em risco a sustentabilidade do plano e, consequentemente, o atendimento de saúde de milhares de cidadãos goianos.
Ao longo dos anos de 2019 e 2020, a nova gestão do Ipasgo trabalhou pela recuperação financeira do plano. Neste período, foram pagas as dívidas deixadas pelos governos anteriores com a rede credenciada de mais de R$ 500 milhões. Após esta etapa, os pagamentos para empresas e profissionais credenciados ao Ipasgo foram regularizados e as datas de quitações foram unificadas pela primeira vez na história do plano.
O plano de assistência realizou revisão de contratos, acordos e convênios, que permitiu uma economia média de R$ 50 milhões. Ao final de 2019, a nova gestão alcançou um equilíbrio histórico nas contas anuais e o Ipasgo fechou o período com superávit. Entre 2013 e 2018, o órgão teve déficits crescentes e balanços anuais somente negativos.
A nova gestão ampliou a rede credenciada e novos serviços de saúde passaram a ser oferecidos em várias regiões do Estado, como Entorno do Distrito Federal, região metropolitana e oeste goiano. Em Aparecida, a nova gestão inaugurou a primeira unidade do projeto Ipasgo Clínicas, que agora oferece pronto atendimento 24 horas para crianças e programa saúde da mulher.
Fonte: G1 Goiás
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